domingo, 16 de junho de 2013

Neurônios Espelho – Das Implicações Teóricas à Clínica (2)


Como eu havia dito na postagem anterior (Neurônios Espelho (1)) falaremos um pouco sobre a terapia de espelhos na prática clínica, mais precisamente em pacientes hemiplégicos/hemiparéticos e na dor no membro fantasma.

Como foi mencionado no post anterior (link) a terapia de espelho pode ser utilizada no paciente após Acidente Vascular Encefálico (AVE) ou em hemiparesias/ hemiplegias, pois irá proporcionar um feedback visual positivo que concorrerá contra o feedback visual negativo gerado no início do quadro clínico na hemiplégia/hemiparesia pela não possibilidade de movimentação do membro afetado. Eu já realizei uma pesquisa sobre esse tema e algumas perguntas sempre apareciam, por exemplo: Pode ser utilizado em pacientes com quadro clínico agudo e crônico? Vai ter o mesmo efeito?
Só a terapia de espelhos resolve? Vamos respondera algumas dessas perguntas.

A terapia de espelho é uma terapia complementar, ela deve ser adicionada a um bom tratamento neurofuncional. Muitos estudos randomizados e os próprios relatos da prática clínica indicam que a terapia de espelhos é muito mais eficaz nas fases aguda (até 3 meses de lesão)  e na fase subaguda (de 3 a 6 meses após a lesão); se pararmos para pensar faz todo sentido. O paciente logo após o evento lesivo passa por uma fase chamada hipotônica onde o(s) membro afetado se encontra, como o nome indica, hipotônico e o paciente não conseguirá mobilizar o membro voluntariamente gerando um feedback visual negativo que irá ser agravado se o paciente não iniciar a reabilitação precocemente. A terapia de espelhos irá fornecer uma concorrência de feedbacks, uma vez que essa terapia proporciona um feedback visual  positivo gerado pela ilusão da movimentação do membro afetado. De forma geral a terapia de espelhos visa acelerar a recuperação motora do hemicorpo afetado integrando estímulos sensoriais à resposta motora, remodelando conexões corticais e promovendo modificações das áreas de representação cortical, através da neuroplasticidade, promovendo melhora do ato motor.

A outra situação onde a terapia de espelhos também pode ser utilizada é na dor do membro fantasma. O nosso cérebro têm áreas específicas responsáveis pelo ato motor, sensibilidade e posicionamento dos membros em relação ao corpo. Quando ocorre uma amputação, há uma desorganização cortical (principalmente do córtex somatossenrorial) da área representativa do membro amputado, logo, essa área responsável pelo membro amputado sofre uma ‘atrofia’, enquanto a representação cortical das partes preservadas do corpo se amplia. Também ocorrerá um aumento de excitabilidade cortical motora dessas áreas remanescentes, quando comparadas às mesmas regiões corticais no hemisfério contralateral. Existem evidências de que a magnitude dessa reorganização cortical gerada pela amputação esteja diretamente associada à gênese e intensidade da dor do membro fantasma. A terapia de espelho irá reverter parcialmente às distorções adaptativas do córtex somatossensorial decorrentes da amputação, com consequente atenuação ou abolição da dor fantasma.

Aos que gostam de séries de tv, no fim da quarto episódio  da sexta temporada de House. O ácido House mostra como a caixa de espelho funciona, só que os resultados não são tão rápidos como é mostrado. 


Referências

1 - Ramachandran VS, Altschuler EL. The use of visual feedback, in particular mirror visual feedback, in restoring brain function. Brain, 2009;132:1693-1710.

2 - Ramachandran, VS, Rogers-Ramachandra, D. Synaesthesia in phanthom limbs induced with mirrors. Proc R Soc Lond B, 1996:263:377-86

3 - Sütbeyaz S, Yavuzer G, Sezer N, Koseuglu F. Mirror Therapy Enhances Lower-Extremity Motor Recovery and Motor Functioning After Stroke: A Randomized Controlled Trial. Arch Phys Rehabil, 2007;88:555-59.

4 - Yun GJ, Chun MH, Park JY, Kim BR. The Synergic Effects of Mirror Therapy and Neuromuscular Electrical Stimulation for Hand Function in Stroke Patients. Ann Rehabil Med, 2011;35:316-21



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