Essa semana li a seguinte frase
estampada em uma matéria da Veja, datada em 10 de Abril de 2013, “não ajuda em
nada” seguida com uma imagem de uma mulher realizando alongamento. Perguntei-me
o que levaria uma pessoa a escrever em um veiculo de comunicação com tamanha
importância, um título tão sensacionalista, chega a cheirar um perfil de uma
“linha de profissional” preguiçosa e muito mal informada que se apegam a
qualquer noticia inconclusiva e empacotada. Todos nós precisamos ter uma visão
crítica de tudo que nos é passado. Existe uma diferença grande, muito grande,
em exercícios para flexibilidade
e os que são feitos para aquecimento.
e os que são feitos para aquecimento.
Para entender isso é preciso saber que o
alongamento é o termo usado para descrever os exercícios físicos que aumentam o
comprimento das estruturas constituídas de tecidos moles e consequentemente, a
flexibilidade (ADM), sendo assim usado de forma preventiva quando falamos em
lesões. Suas modalidades são: alongamento estático, alongamento balístico e
alongamento por facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Para
Guiselini, mestre em educação física pela USP e especialista em biomecânica do
treino de resistência pelo Cooper Institute, dos EUA, em entrevista a Folha
Online disse que o problema é que muitos atribuem à prática uma finalidade para
a qual ela não foi construída. “As pessoas usam como se fosse o aquecimento
para a atividade física, mas é no máximo uma parte dele, e, com efeito muito
pequeno.”
Weineck(1), diz que o objetivo central
do aquecimento é obter aumento da temperatura corporal e da musculatura, bem
como preparar o sistema cardiovascular e pulmonar para a atividade e para o
desempenho motor. Atividades de aquecimento são necessárias para preparar o
corpo para a atividade física vigorosa porque aumentam o desempenho e diminuem
o risco de lesão muscular. Sendo assim, alongamentos estáticos não são capazes
de sozinhos produzirem tais efeitos.
Para Shrier(2), uma das possíveis
razões da distensão deve-se à heterogeneidade do comprimento dos sarcômeros
durante a atividade muscular - enquanto uns sarcômeros encontram-se em posição
de maior comprimento, outros encontram-se encurtados. Provavelmente porque os
sarcômeros terminais são mais rígidos do que os sarcômeros do ventre muscular.
Então nesse sentido já percebemos que
o aquecimento deve ser progressivo e gradual e proporcionar intensidade
suficiente para aumentar as temperaturas musculares e centrais sem produzir
fadiga nem reduzir as reservas de energia. O aquecimento tem o potencial de
melhorar o desempenho na prática esportiva porque permite a adaptação mais
rápida do corpo ao estresse do exercício.
Inclusive o estudo feito
em Zagreb, Croácia, citado pela reportagem, disse que cerca de 20 dos
estudos selecionados não apresentaram diminuição de força, potência ou
desempenho muscular explosivo, e que ainda encontrou outros estudos que
apresentaram melhoras quando o alongamento foi usado no processo de
aquecimento. Além disso, o próprio estudo afirma que deixou de incluir certas
características dos estudos na avaliação e que segundo os scores obtidos por
essa avaliação a maioria dos estudos estão sujeitos a apresentarem viés, por
exemplo, eles não souberam precisar com exatidão os níveis de execução dos
alongamentos. Eles ainda afirmam que seus resultados foram conclusivos para
afirmar que quando o alongamento estático é feito de forma isolada visando o
aquecimento, este deve ser uma rotina evitada.
Outros autores (3-5) têm dito que esta
diminuição induzida pelo alongamento estático é causada pela redução de rigidez
musculotendínea, o que reduz a capacidade do músculo quanto à eficácia na
geração de força, entendendo que a rigidez musculotendínea permite maior
produção de força pela contração dos seus componentes quando comparada com um
componente musculotendíneo complacente. Isso é bem simples de entender, veja, se
esticamos muito o músculo, após um tempo ele manda uma mensagem ao cérebro:
"vou arrebentar". Esse sistema é comandando pelas fibras sensoriais
que entrelaçam os tendões (OTG). O cérebro então devolve em comandos fazendo o
relaxamento. Então o sistema neuromotor desliga a fibra muscular, para ela não
fazer mais força.
Mas concordando com boa parte dos
estudos selecionados pelo autores de Zagreb, um estudo feito por Albuquerque
et. al.(6). Aqui no Brasil, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-51502011000200003&lang=pt, analisou a força muscular dos
extensores do joelho, antes e após a aplicação de alongamento estático, do
exercício aeróbico e antes e após associação de ambos, verificando, dessa
maneira, os efeitos dos diferentes tipos de aquecimento sobre a força muscular.
Participaram do estudo 16 indivíduos do sexo feminino. As variáveis observadas
foram: pico de torque concêntrico, pico de torque excêntrico e trabalho total e
posteriormente avaliou a força no dinamômetro isocinético, realizou um
intervalo mínimo de 48 horas, e depois aplicou um protocolo de aquecimento
seguido da reavaliação da força muscular. No fim conclui que, de forma aguda, o
desempenho de força muscular na extensão do joelho não sofreu alterações
significativas após os diferentes protocolos de aquecimento utilizados,
considerando nível de significância de p < 0,05 para as variáveis.
Referências:
1 - Weineck J. Treinamento Ideal. 9ª Ed. São Paulo: Manole, 2003.
2 - Shrier I, Gossal K. Myths
and Truths of Stretching. The Physician Sportsmedicine, 2000.
3 - Nelson AG, Kokkonen J.
Acute ballistic muscle stretching inhibits maximal strength performance. Res Q Exerc Sport 2001
4 - Tortora GJ, Grabowski SR. Princípios de Anatomia e
Fisiologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002
5 - Achour Jr A. Exercícios de Alongamento: Anatomia e
Fisiologia. 2ª Ed. São Paulo: Manole, 2006
6 - Albuquerque
CV, Maschio JP, Gruber CR, Souza
RM, Hernandez S. Efeito agudo de diferentes formas de
aquecimento sobre a força muscular. Fisioter. mov. 2011.
Autor: Robson Arruda
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