sábado, 13 de abril de 2013

Alongue sua crítica

Essa semana li a seguinte frase estampada em uma matéria da Veja, datada em 10 de Abril de 2013, “não ajuda em nada” seguida com uma imagem de uma mulher realizando alongamento. Perguntei-me o que levaria uma pessoa a escrever em um veiculo de comunicação com tamanha importância, um título tão sensacionalista, chega a cheirar um perfil de uma “linha de profissional” preguiçosa e muito mal informada que se apegam a qualquer noticia inconclusiva e empacotada. Todos nós precisamos ter uma visão crítica de tudo que nos é passado. Existe uma diferença grande, muito grande, em exercícios para flexibilidade
e os que são feitos para aquecimento.


Para entender isso é preciso saber que o alongamento é o termo usado para descrever os exercícios físicos que aumentam o comprimento das estruturas constituídas de tecidos moles e consequentemente, a flexibilidade (ADM), sendo assim usado de forma preventiva quando falamos em lesões. Suas modalidades são: alongamento estático, alongamento balístico e alongamento por facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Para Guiselini, mestre em educação física pela USP e especialista em biomecânica do treino de resistência pelo Cooper Institute, dos EUA, em entrevista a Folha Online disse que o problema é que muitos atribuem à prática uma finalidade para a qual ela não foi construída. “As pessoas usam como se fosse o aquecimento para a atividade física, mas é no máximo uma parte dele, e, com efeito muito pequeno.”



Weineck(1), diz que o objetivo central do aquecimento é obter aumento da temperatura corporal e da musculatura, bem como preparar o sistema cardiovascular e pulmonar para a atividade e para o desempenho motor. Atividades de aquecimento são necessárias para preparar o corpo para a atividade física vigorosa porque aumentam o desempenho e diminuem o risco de lesão muscular. Sendo assim, alongamentos estáticos não são capazes de sozinhos produzirem tais efeitos.
Para Shrier(2), uma das possíveis razões da distensão deve-se à heterogeneidade do comprimento dos sarcômeros durante a atividade muscular - enquanto uns sarcômeros encontram-se em posição de maior comprimento, outros encontram-se encurtados. Provavelmente porque os sarcômeros terminais são mais rígidos do que os sarcômeros do ventre muscular.


Então nesse sentido já percebemos que o aquecimento deve ser progressivo e gradual e proporcionar intensidade suficiente para aumentar as temperaturas musculares e centrais sem produzir fadiga nem reduzir as reservas de energia. O aquecimento tem o potencial de melhorar o desempenho na prática esportiva porque permite a adaptação mais rápida do corpo ao estresse do exercício. 


Inclusive o estudo feito em Zagreb, Croácia, citado pela reportagem, disse que cerca de 20 dos estudos selecionados não apresentaram diminuição de força, potência ou desempenho muscular explosivo, e que ainda encontrou outros estudos que apresentaram melhoras quando o alongamento foi usado no processo de aquecimento. Além disso, o próprio estudo afirma que deixou de incluir certas características dos estudos na avaliação e que segundo os scores obtidos por essa avaliação a maioria dos estudos estão sujeitos a apresentarem viés, por exemplo, eles não souberam precisar com exatidão os níveis de execução dos alongamentos. Eles ainda afirmam que seus resultados foram conclusivos para afirmar que quando o alongamento estático é feito de forma isolada visando o aquecimento, este deve ser uma rotina evitada. 

Outros autores (3-5) têm dito que esta diminuição induzida pelo alongamento estático é causada pela redução de rigidez musculotendínea, o que reduz a capacidade do músculo quanto à eficácia na geração de força, entendendo que a rigidez musculotendínea permite maior produção de força pela contração dos seus componentes quando comparada com um componente musculotendíneo complacente. Isso é bem simples de entender, veja, se esticamos muito o músculo, após um tempo ele manda uma mensagem ao cérebro: "vou arrebentar". Esse sistema é comandando pelas fibras sensoriais que entrelaçam os tendões (OTG). O cérebro então devolve em comandos fazendo o relaxamento. Então o sistema neuromotor desliga a fibra muscular, para ela não fazer mais força.





Mas concordando com boa parte dos estudos selecionados pelo autores de Zagreb, um estudo feito por Albuquerque et. al.(6). Aqui no Brasil, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-51502011000200003&lang=pt, analisou a força muscular dos extensores do joelho, antes e após a aplicação de alongamento estático, do exercício aeróbico e antes e após associação de ambos, verificando, dessa maneira, os efeitos dos diferentes tipos de aquecimento sobre a força muscular. Participaram do estudo 16 indivíduos do sexo feminino. As variáveis observadas foram: pico de torque concêntrico, pico de torque excêntrico e trabalho total e posteriormente avaliou a força no dinamômetro isocinético, realizou um intervalo mínimo de 48 horas, e depois aplicou um protocolo de aquecimento seguido da reavaliação da força muscular. No fim conclui que, de forma aguda, o desempenho de força muscular na extensão do joelho não sofreu alterações significativas após os diferentes protocolos de aquecimento utilizados, considerando nível de significância de p < 0,05 para as variáveis.




Ou seja, generalizar e mal compreender uma pesquisa pode levar a erros. Esperamos agora, estimular a realização de debates e novos estudos que possam ser definitivos acerca do tema abordado. Mas queremos saber como você vai orientar seu aluno/paciente a realizar de forma adequada a atividade nesse estica e puxa de informações, de uma coisa eu sei, o alongamento serve, serve pra muita coisa. E é muito melhor fazer exercícios usando a cabeça.


Referências:

1 - Weineck J. Treinamento Ideal. 9ª Ed. São Paulo: Manole, 2003.  

2 - Shrier I, Gossal K. Myths and Truths of Stretching. The Physician Sportsmedicine, 2000.

3 - Nelson AG, Kokkonen J. Acute ballistic muscle stretching inhibits maximal strength performance. Res Q Exerc Sport 2001

4 - Tortora GJ, Grabowski SR. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002

5 - Achour Jr A. Exercícios de Alongamento: Anatomia e Fisiologia. 2ª Ed. São Paulo: Manole, 2006


6 - Albuquerque CV, Maschio JP, Gruber CR, Souza RM, Hernandez S. Efeito agudo de diferentes formas de aquecimento sobre a força muscular. Fisioter. mov. 2011.




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