segunda-feira, 20 de maio de 2013

Neurônios Espelho – Das Implicações Teóricas à Clínica


Bem, essa é a primeira de 3 postagens introdutórias sobre neurônios espelho, espero que gostem.

Os neurônios espelho foram descritos pela primeira vez em 1996 por Rizzolatti e cols. Foram denominados neurônios espelho uma das duas classes de neurônios visuomotores situados na área pré-motora (F5) de macacos Rehsus. Esses pesquisadores demonstraram que tais neurônios da área F5, que eram ativados quando o animal fazia um movimento com uma finalidade específica como (pegar uvas passa), também eram ativados quando o animal observava um outro indivíduo (macaco ou ser humano) realizando a mesma tarefa.

Diversos estudos de neuroimagem, entre eles, o de Buccino e colaboradores em 2004 e o de Fadiga, Craighero e Olivier em 2005 observaram ação semelhante à encontrada nos macacos em seres humanos, sugerindo a presença de um Sistema de Neurônios Espelho (SNE) nas áreas corticais fronto-parietais. Nos seres humanos, alguns estudos utilizando PET e fmir, observaram que o SNE está localizado em diversas áreas corticais fronto-parietais, como também a área de Broca; o que pode sugerir que os neurônios espelho podem ter
contribuído para a gênese da linguagem humana, servindo de base para a apropriação simbólica de atos motores.

O SNE simula a ação observada, pois a transmissão neuronal será facilitada para os músculos que serão responsáveis pela realização das tarefas. Os neurônios espelho foram associados a diversas modalidades de comportamento humano: imitação, aprendizado de novas habilidades e leitura da intenção em outros humanos e sua disfunção poderia estar envolvida com a gênese do autismo.

Em 1996, um pesquisador Indiano chamado Vilayamar S. Ramachandran utilizou uma caixa de espelho a fim de aliviar a dor no membro fantasma de pacientes amputados e posteriormente por Altschuller (1999), para a reabilitação do membro superior de pacientes pós AVE. A técnica que surgia constituía-se na utilização de um espelho, posicionado na linha média do corpo, no qual o paciente irá mobilizar o membro sadio. Os movimentos do membro sadio refletidos no espelho transmitirão a percepção de que o membro afetado está se movimentando, gerando assim um feedback visual positivo concorrendo contra o feedback visual negativo gerado no início do quadro clínico do AVE, por exemplo (VÍDEO). Acredita-se que nesta terapia, haja recrutamento dos neurônios espelho. Estes neurônios envolveriam interações entre modalidades múltiplas, visão, comandos motores e propriocepção.

A terapia de espelhos ainda está sendo estudada em diversas áreas de reabilitação física para pacientes com hemiparesias e hemiplegias e para dor; como também há diversas pesquisas surgindo sobre neurônios espelho (associação com a empatia, esquizofrenia e autismo), mas a sua aplicação e essas associações com os neurônios espelho serão discutidas na continuação desse post, muito em breve.

Até logo.


Referências:

1 - BUCCINO, G., BINKOFSKI, F., RIGGIO, L., The mirror neuron system and action recognition. Brain and Language, v 89, p 370–376, 2004.
2 - FADIGA, L., CRAIGHERO, L., OLIVER, E., Human motor córtex excitability during the perception of other’s action. Current Opinion in Neurobiology, v 15, p 213 – 218, 2005.
3 - FRANCESCHINI, et al., Mirror Neurons: Action observation treatment as a tool in stroke rehabilitation. Eur J Phis Rehabil Med, v 46, p 517 – 523, 2010.
4 - RIZZOLATI, G., FOGASSI, L., GALESSE, V., Neurophysiological mechanismsunderlying the understanding and imitation of action. Nature Reviews Neuroscience, v 2, p 661 – 670, 2001.
5 - HAUSER, M., HICKOK, G., (Mis)understanding mirror neurons. Curr Biol, v 20, n 14, p 593 – 594, 2010.
6 - RIZZOLATTI, G., et al., Premotor cortex and the recognition of motor actions. Cognitive Brain Research, v 3, n 2 p 131 – 141, 1996.
7 - RAMACHANDRAN, V. S., ALTSHULER, E. L. The use of visual feedback, in particular mirror visual feedback, in restoring brain function. Brain, v 132, p 1693 – 1710, 2009.


2 comentários:

  1. Super interessante, André! Inclusive vi na Scientific American uma teoria sobre o autismo. Crianças com tal doença tem dificuldade de interagir socialmente porque seu sistema de neurônios espelho não funciona adequadamente. A verdadeira causa ainda continua um mistério, mas enquanto ele não é desvendado, essa especulação oferece uma base super útil para as pesquisas.

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  2. Exatamente, ainda há muito pra ser pesquisado sobre os neurônios espelho. Há algumas teorias sobre a relação desse Sistema de Neurônios tanto no autismo quanto na esquizofrenia e também relacionado com a empatia.. mas esse é um assunto para os próximos posts. :D

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